Inicia-se nova jornada, onde por certo também haverá cores berrantes, que a vida não existe sem elas. Mas agora é tempo de convidar a alegria e a leveza a juntarem-se a nós!
Cores de Frida
"Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado gafe." Clarice Lispector
21 novembro, 2010
04 outubro, 2010
Aletheia
E pode poesia de alegria?
Quando começou
até fez susto
comichão de ser feliz
até fez susto
comichão de ser feliz
coceirinha gostosa
das asas nascendo
criando vício de liberdade
Mas onde tiro visto pra Terra do Nunca?
Vontade de tudo
carnaval carnaval carnaval
risos gingado barba
brincar de namorar
mentiras vestidas de gala
cenários e um amor de boteco
Deus perdoa tanto carnaval assim?
Vomitei medo e culpa na manhã de céu azul
o corpo dá seu jeito de expelir coisas tóxicas, eu já sabia.
Mas desconfiei um pouco.
Depois gostei bastante
e estou agora neste estado de querência.
Um cesto de delícias
certezas pra confundir
idiomas inventados
significados pra misturar
volúpia, desejo de gozar
na sua
com a sua cara
e deixar a língua falar
coisa nenhuma
coisa alguma
coisa com coisa.
Toda
molhada
me derramo
me derramo
sem
derramar
nem uma lágrima.
derramar
nem uma lágrima.
02 outubro, 2010
SeCura
Jorram águas de novo
Ando seca com intervalos de enchente
seca onde só não
nada brota
só esta luta brava sanguinolenta áspera
interrompida por jorros d’água
encharcando alma seca
enchente que quer matar até as sementes
até as sementes
que não
existiram
existirão.
O corpo do futuro foi encontrado boiando antes das águas baixarem
e quando as águas baixaram
secou rápido
as gretas começaram a rasgar
fendas fundas feridas
na terra
nesta secura
Se cura o que?
Meu Deus, não tem primavera neste sertão?
25 março, 2006
A dor e o medo
A dor:
a menina esforçou-se
na tão repetida lição,
acreditou
que tinha enfim entendido,
mas veio a vida,
severa professora,
e riscando tudo,
escreveu um grande zero em vermelho.
O medo:
a eterna menina
que não sabe ler o amor
não conseguir nunca aprender.
Sem passar nessa disciplina
não passa nunca de menina à mulher
18 março, 2006
A Mulher no Labirinto
Toada ( Adélia Prado)
Cantiga triste, pode com ela
é quem não perdeu a alegria.
A mulher dos horizontes amplos
e levezas d’alma
voltou hoje,
chegou à noitinha
recitando a Toada lindamente,
contando-me segredos e feitiços.
Permitiu-me revelar alguns:
disse que não voltou
porque sempre esteve
e que se não a vejo
é pura cegueira.
A causa:
dor e angústia,
temperados com medo e pressa.
Mistura de fazer
escuridão
e encarcerar o olhar.
A mulher está aqui
abrindo espaço para toda uma vida.
Foi buscar longas histórias,
da mãe cuidando muito mais de todos que de si,
do pai, antes força e depois abismos sem fim,
tornando-se cada dia mais filho e menos pai.
Trouxe a avó e seus tachos de doces
espalhando cheiros pela casa,
perfumes de amor na minha memória.
E o avô cardíaco
namorando horas o saxofone
que já não podia tocar
passando, com o tempo,
a música
a ecoar dos dedos do irmão.
A mulher sorrindo
sussurrou que da irmã
não é preciso contar.
Ela, aparecida,
aparece em tudo,
está em cada linha
de cada verso
dos meus dias,
daqueles de menina perdida
em que não vejo a mulher,
e dos dias em que estou inteira,
menina, moça e mulher.
A estas histórias
juntou ainda outras
de amigos,
amores,
desamores.
E com arte e paciência
é quem não perdeu a alegria.
A mulher dos horizontes amplos
e levezas d’alma
voltou hoje,
chegou à noitinha
recitando a Toada lindamente,
contando-me segredos e feitiços.
Permitiu-me revelar alguns:
disse que não voltou
porque sempre esteve
e que se não a vejo
é pura cegueira.
A causa:
dor e angústia,
temperados com medo e pressa.
Mistura de fazer
escuridão
e encarcerar o olhar.
A mulher está aqui
abrindo espaço para toda uma vida.
Foi buscar longas histórias,
da mãe cuidando muito mais de todos que de si,
do pai, antes força e depois abismos sem fim,
tornando-se cada dia mais filho e menos pai.
Trouxe a avó e seus tachos de doces
espalhando cheiros pela casa,
perfumes de amor na minha memória.
E o avô cardíaco
namorando horas o saxofone
que já não podia tocar
passando, com o tempo,
a música
a ecoar dos dedos do irmão.
A mulher sorrindo
sussurrou que da irmã
não é preciso contar.
Ela, aparecida,
aparece em tudo,
está em cada linha
de cada verso
dos meus dias,
daqueles de menina perdida
em que não vejo a mulher,
e dos dias em que estou inteira,
menina, moça e mulher.
A estas histórias
juntou ainda outras
de amigos,
amores,
desamores.
E com arte e paciência
vai unindo todos estes pedaços,
quer formar um forte fio
de um novelo de lã.
Fio de Ariadne no labirinto da vida.
quer formar um forte fio
de um novelo de lã.
Fio de Ariadne no labirinto da vida.
16 março, 2006
Sorriso-lua crescente
Para esse amigo que fala de seu riso difícil, aqui . Para todos que queremos rir mais facilmente, mais vezes e sempre verdadeiramente.
Seus risos riscam imprecisos
arriscando em meio
a fragmentos
medos
e dor
uma
linha
reta.
Risos fáceis
dádiva que desejo
fazem curvas generosas
desenhos no rosto e na alma.
Esses versos riem um riso assim
nessa curva deitada
de lado para você.
15 março, 2006
Horizontes
Pensamentos esquisitos me inquietam.
Isso e as gotas de chuva
cada uma delas
delicadamente
derramando
tristeza sobre meu teclado.
Pensamentos e chuvas que não me obedecem.
Quero de volta a mulher que ontem sorria
fotografando flores
revelando futuros.
Ela esteve nesta casa
com levezas d’alma que há muito não sentia
espaço aberto
para música e desejos.
Foi-se embora em meio ao jantar que preparava.
A mulher que cozinhava com gosto
comida mineira e feitiços
de ressuscitar a infância
saiu num galope
assustada
nem bilhete deixou.
Fugiu como se tivessem lhe aparecido fantasmas.
Deixou-me aqui sozinha.
Passei o dia a sua procura
e nada
nenhum vestígio daquela mulher em mim.
Ela não pensaria esquisitices
sobre um mundo mais feio sem você.
Seus olhos vêem mais além
amplos horizontes
e força para percorrê-los.
Com o que enxergam,
esses olhos espalham brilho
e não gotas de tristeza sobre o computador.
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